7.9.07

Convidados em discurso directo

Divina Frau-Meigs

“Eu creio que há um cidadão real que está muito cansado, que passa o tempo a trabalhar, a consumir, e que dá muita atenção às coisas da cidadania. Creio que, aqui, a mediação dos profissionais dos media é uma exigência para se poder solucionar esta distância entre o espectador real e o cidadão ideal. Há que trabalhar o aspecto social, cívico, para não se deitar tudo para o público. É tudo um problema ético, este de falar da cidadania como responsabilidade e autonomização do indivíduo. Cidadania é uma palavra muito fácil de dizer, quando na realidade o indivíduo tem muito pouco poder sobre as estruturas e as instituições.”

Rosental Calmon Alves

“O tema da SOPCOM não podia ser mais apropriado porque uma das coisas mais importantes que estão a acontecer com a revolução do digital é uma nova relação entre a cidadania e os meios de comunicação. As audiências dos meios de comunicação, que eram tradicionalmente muito passivas, estão a tornar-se muito activas. O mundo está a mudar completamente. Estamos numa época de emergência de novos paradigmas da comunicação e entre os mais importantes está a possibilidade de diálogo. A comunicação deixa de ser um monólogo ou um sermão e passa a ser mais uma conversa.”

Victoria Camps

“A liberdade de expressão é um direito fundamental que hoje se deteriora porque o que se chamou, outrora, um debate livre de opiniões, hoje converteu-se no mercado das ideias. O que eu vou fazer neste Congresso é colocar em questão uma ideia muito clássica dentro da filosofia: a de que o livre debate de opiniões gera a verdade. Quando o livre debate de opiniões se converte no mercado das ideias, não gera a verdade, pois vale tudo, incluindo a ideia menos interessante e a menos inteligente.”

Joseph Straubhaar

“ ‘Comunicação e Cidadania’ é um tema bem interessante, especialmente nos nossos dias em que temos possibilidades tecnológicas de interagir e de participar como cidadãos, e em que também há muitos novos níveis de identidade e de interacção cultural. Não é só ser cidadão de uma nação, de uma cidade ou região; é também ser cidadão com várias possibilidades mundiais de interagir com vários grupos de interesse e actividades. Tecnológica e culturalmente, temos mais possibilidades de sermos cidadãos.”
Margarita Ledo

“Neste momento, enquanto presidente da LUSOCOM, que agrupa as associações de investigadores de pesquisa e comunicação dos países lusófonos, entendo que há que repensar a relação entre cidadania e comunicação. Esta é uma questão constitutiva da sociedade do conhecimento. A cidadania é entendida como igualdade, isto é, como o acesso à comunicação de todos os cidadãos, o que implica terminologias, o uso de determinados códigos e alfabetização mediática.”

Mário Mesquita

“Foco a questão da cidadania, no sentido de perguntar por que motivo existe a ideia de que houve, no passado, uma idade do ouro da cidadania e, por isso, a minha comunicação se intitula “ À procura da cidadania perdida”. Foram várias as épocas intermédias, ao longo dos séculos XIX e XX, em que o conceito de cidadania coexistia com a escravatura. Há nostalgia, não da cidadania, mas de um elemento que está, por vezes, associado, que é essa ideia de cidadão, que se chama militância, num período de mudança social e política.”

Francisco Sierra Caballero

“Eu acho que as políticas públicas são a questão primária para discutir a cidadania, porque, na era da sociedade da informação, o verdadeiro problema não é o acesso à brecha digital. O problema é como a cidadania participa no exercício do espaço público, na constituição da política e nas relações entre os cidadãos. Na UE, apesar dos discursos de acesso e de igualdade no campo da cultura e da comunicação, não há políticas públicas e a determinação dessas políticas vai fazer possível uma nova cidadania mais ‘dialógica’, mais plural e mais heterogénea, na qual o cidadão não é só consumidor mas também, de algum modo, criador.”

Sónia Virgínia Moreira

“Mais do que nunca, “Comunicação e Cidadania” é um tema apropriado, porque o cidadão é cada vez mais um cidadão de vários lugares do mundo. Na maior parte do mundo, os cidadãos estão a tornar-se parte da comunicação. São eles que estão a fazer a comunicação. As novas tecnologias ajudam a fazer com que o cidadão participe cada vez mais nesse processo de colecta e distribuição de informação.”

Paquete de Oliveira

“Há uma relação difícil entre estes dois pólos: comunicação e cidadania. Eu acredito que a cidadania é a instituição que pode rentabilizar ao máximo todos os mecanismos para podermos ter uma informação e uma programação televisivas mais consentâneas com os interesses da sociedade portuguesa. Na sociedade democrática de hoje, fala-se muito dos direitos e deveres do cidadão. O Provedor do Espectador é uma entidade promotora de auto-regulação, ou seja, escuta a opinião dos telespectadores e avalia quais são os seus interesses, para que essa televisão possa ter cada vez mais qualidade.”

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